Linguistica da Língua de Sinais / Linguística Aplicada
Organizadores: Leonardo Peluso, Jair Silva e Ronice Quadros
Vagas: 180
O presente Simpósio pretende constituir-se em um espaço para a discussão das atuais linhas de pesquisa que vem sendo desenvolvidas no campo da linguística das línguas de sinais desde meados do século XX. Embora seja um campo com poucos anos de existência, ao longo de sua história, inumeráveis desafios e problemas tiveram que ser vencidos. Em seu início, que a historiografia linguística atribui aos pioneiros trabalhos de William Stokoe, descrições pensadas e organizadas para as línguas orais foram utilizadas como forma de demonstrar que as línguas de sinais tinham o mesmo caráter verbal que aquelas. Este fato acabou por gerar resistências na linguística clássica, pois foi necessária a adequação das categorias que, historicamente, foram desenvolvidas para o estudo das línguas consideradas constitutivamente sonoras. No entanto, esta busca pela igualdade, em termos linguísticos, entre línguas de materialidades distintas acabou por gerar um importante fruto político no interior da linguística. Hoje já não há dúvidas sobre o caráter verbal das línguas de sinais. Esta certeza foi determinante para que outras perspectivas passassem também a se interessar pela linguística das línguas de sinais, como foi o caso da inaugurada por Christian Cuxac, no final do século XX, na qual se observa um movimento inverso ao da linguística de linha stokeana. Trata-se de uma linguística das línguas de sinais que procura mostrar as diferenças que existem entre essas línguas e as línguas orais, fundamentalmente no que se refere à materialidade na qual se organizam para veicular o plano significante. Introduz-se, com isso, a iconicidade como um dos traços constitutivos das línguas de sinais e assume-se ser ela um forte diferenciador a ser considerado nos estudos destas línguas. Deste modo, constitui-se em uma linguística que propõem romper com a histórica separação realizada pelo estruturalismo entre as ciências da linguagem e as outras ciências semiológicas. Nesta mesma perspectiva, pesquisadores nacionais e estrangeiros, a partir da vinculação a outros referenciais teóricos, têm também buscado compreender e descrever as particularidades das línguas de sinais, sem haver mais a necessidade de se espelhar nas línguas orais, como é o caso dos estudos desenvolvidos a partir da teoria enunciativa de Mikhail Bakhtin, que tem ainda estabelecido profícuo diálogo com a área da Educação. Frente ao exposto, este Simpósio tem como objetivo oferecer um espaço para que pesquisadores do Brasil e de outros países, que tem trabalhado no campo da linguística da língua de sinais a partir de distintas perspectivas teóricas, possam apresentar e discutir, com pares, o estado atual de seus respectivos trabalhos – avanços obtidos e dificuldades que ainda persistem. Pretende-se ainda dar centralidade ao aspecto político que está atrelado à linguística das línguas de sinais, seja no plano descrito acima, seja nos efeitos que esses trabalhos têm sobre as comunidades linguísticas que se utilizam das línguas de sinais. A pertinência e relevância de um Simpósio com esta temática em um Congresso de e para linguistas, justifica-se, portanto, tanto por razões acadêmicas como políticas. No plano acadêmico porque ele se torna um espaço privilegiado para que linguistas que trabalham na área dos Estudos Surdos possam estar em contato com os distintos trabalhos que estão sendo desenvolvidos. Torna-se necessário considerar que, por ser um campo novo e ainda de pouco prestígio, muitas vezes os pesquisadores que a ele se vinvulam possuem poucas oportunidades para dialogarem com comunidades que estão pesquisando temáticas similares em diferentes lugares, inclusive naqueles geograficamente vizinhos. No plano político, porque os Congressos de Linguística tendem a deixar de lado os estudos das línguas de sinais ou os colocam em zonas marginais no interior do evento. Por esta razão, acredito ser relevante que um Congresso, da ABRALIN, possa contar com simpósios que tratem desta temática como parte das políticas que visam dar visibilidade às línguas de sinais, em diálogo como temas centrais da e para a linguística, promovendo debates que possam apontar para novos encaminhamentos no nosso campo.