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ÂNGELA VAZ LEÃO, A PRIMEIRA PRESIDENTE DA ABRALIN
1973-1975

Ataliba Teixeira de Castilho
Adelaide H. Pescatori Silva, Presidente
Valéria Neto de Oliveira Monareto, Vice-Presidente
Sandra Quarezemin, 1a. Secretária
Maria Cristina Figueiredo Silva, 2a. Secretária
André Nogueira Xavier, 1o. Tesoureiro
Rosane Silveira, 2a. Tesoureira

 

Dona Ângela Vaz Leão completará 100 anos no dia 1 de outubro deste ano de 2022. A atual Diretoria da ABRALIN não poderia deixar a data passar em branco. Para isso, presta-lhe esta homenagem, recordando a todos as grandes contribuições que ela prestou à nossa associação.

A ABRALIN foi fundada por proposta inicialmente apresentada no I Seminário de Linguística, convocado em 1967 pelo Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília, então um Instituto Isolado de Ensino Superior do Estado de São Paulo.

O objetivo desse seminário foi mapear as atividades da nascente Linguística brasileira para que seus professores escolhessem direções para suas pesquisas.
Resolveu-se convidar todos os linguistas brasileiros, cada qual com o pedido de que apresentassem seu ramo de atuação. Disto resultou a seguinte programação:

J. Mattoso Câmara Jr. -“O Estruturalismo Linguístico”
Theodoro Henrique Maurer Jr.  -“Linguística Histórica”
Geraldo Cintra  – “Um aspecto da Linguística Aplicada ao ensino de línguas”
Nelson Rossi -“A Dialetologia”
Maria Tereza Camargo  – “A Estatística Léxica”
Aryon Dall’Igna Rodrigues – “Planejamento da investigação linguística no Brasil”
Ataliba T. de Castilho e Enzo Del Carratore – “A Onomasiologia no Léxico e na Sintaxe”
Julio García Morejón e Manuel Dias Martins – “O Idealismo Linguístico”
Paulo A. A. Froehlich – “A Linguística Descritiva”

Cada autor tinha enviado previamente seu texto, que foi multiplicado e distribuído aos participantes, o que assegurou excelentes debates ao final de cada sessão. Esses textos, bem como os resumos dos debates, foram publicados na revista Alfa 11:1967, atualmente Revista de Linguística da UNESP.
Ficou evidente para todos que novos eventos semelhantes a este deveriam ser convocados. Surgiu, assim, a ideia da fundação da Associação Brasileira de Linguística.

Dona Ângela participou desse seminário. Com sua memória prodigiosa, ela recordaria tempos após detalhes do evento, tais como as conversas entre os participantes, bastante motivados por aquele encontro.
Mas o Prof. Câmara Jr. ponderou que a criação de uma associação tal, tanto quanto a eleição da primeira diretoria, deveria ocorrer em ocasião própria, devidamente convocada para o efeito, no que foi acompanhado pelos presentes.
Essa situação sobreviria no ano seguinte, no Recife, por ocasião de um dos seminários de Linguística promovidos pelo Instituto de Idiomas Yázigi. Preparou-se, nessa ocasião, o documento transcrito abaixo.

A Assembleia Geral de fundação da Associação Brasileira de Linguística, convocada por J. Mattoso Câmara Jr., realizou-se a 09 de janeiro de 1969, no pequeno auditório do Serviço Social do Comércio, na rua Dr. Vila Nova 228, São Paulo – SP.
Compareceram e assinaram as listas de adesão 63 (sessenta e três) interessados, que discutiram, emendaram e aprovaram o anteprojeto de Estatuto submetido ao plenário. Na mesma ocasião, foi eleita a primeira Diretoria da associação, assim constituída: Aryon Dall’Igna Rodrigues, Presidente, Francisco Gomes de Matos, Secretário, Marta Coelho, Tesoureira e o primeiro Conselho por: J. Mattoso Câmara Jr., Nelson Rossi, Ataliba T. de Castilho, J. Philipson, Geraldo Lapenda e Isaac Nicolau Salum.

A 04 de julho de 1969, reuniram-se formalmente Conselho e Diretoria, em Belo Horizonte – MG, aproveitando a realização do III Instituto Brasileiro de Linguística, uma iniciativa do Instituto de Idiomas Yázigi. Nessa reunião, foram admitidos 13 (treze) novos membros e planejadas atividades a desenvolver em Salvador – Ba, onde se realizaria o IV Instituto Brasileiro de Linguística.

Em janeiro de 1970, voltaram a reunir-se Conselho e Diretoria, realizando-se uma Assembleia Geral, em que se introduziram pequenas modificações na redação do Estatuto e estabeleceu-se o termo a quo para o mandato da Diretoria e do Conselho.

Naquele mesmo mês e ano, a Associação realizou um ciclo de 4 (quatro) conferências, a cargo dos associados Aryon Rodrigues (Presidente), Francisco Gomes de Matos (Secretário), Joselice Macedo de Barreiro e Nelson Rossi (membro do Conselho).

Mas não foi ainda desta vez que a ABRALIN decolou. Envolvido em problemas surgidos na instalação do Curso de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aryon Dall’Igna Rodrigues não pôde ocupar-se com a associação, que interrompeu suas atividades a partir de janeiro de 1970.

Em janeiro de 1973, aproveitando a oportunidade criada pelo VI Instituto Brasileiro de Linguística, Nelson Rossi e Ataliba T. de Castilho, únicos a dispor ainda do mandato de Conselheiros, concordaram em que seria necessário fazer algo. Rossi expediu então uma circular a todos os associados, submetendo a votação por correspondência, prevista no estatuto, a hipótese de extinguir-se a Associação ou convocar-se uma assembleia geral para a eleição de nova Diretoria, nesse caso com indicação de data e local.

Venceu a segunda proposta. Em consequência, convocou-se a Assembleia Geral para 26 de julho de 1973, em São Paulo, na Faculdade de Educação da USP.

Compareceram vinte e dois associados, elegendo-se a nova Diretoria, constituída por Ângela Vaz Leão, Presidente, Eunice Souza Lima Pontes, Secretária, Maria Antonieta Alba Celani, Tesoureira. Para o Conselho, foram eleitos Carlos Eduardo Falcão Uchôa, Jurn Jacob Philipson, Albino da Bem Veiga e Aryon Dall’Igna Rodrigues, a que se juntaram Ataliba Teixeira de Castilho e Nelson Rossi, ainda detentores de mandato.

Ângela Vaz Leão tomou então as iniciativas que tinham sido deixadas de lado, a saber:

1. Atividades administrativas
1.1. Registro da ABL como sociedade civil

O registro da Associação Brasileira de Linguística como pessoa jurídica deixara de fazer-se em época oportuna, isto é, logo após a sua constituição. Não se podia, portanto, reconhecer-lhe a existência legal para qualquer efeito, inclusive o de abrir conta bancária em seu nome. Assim, logo após a posse, a nova Diretoria precisou de um ano para esse fim, processo demorado devido à inexistência de livros e documentos essenciais, tais como: a) ata da fundação, que teve de ser reconstituída a partir de uma publicação da revista ALFA, de Marília; b) qualificação completa dos membros que assinaram a lista de presença à reunião de fundação – conjunto de elementos difíceis de obter, no caso de alguns associados; c) livros de ata e de contabilidade.

Afinal, efetivou-se o registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, cidade em que a instituição tem sede e foro, de acordo com o artigo 2º de seus Estatutos.

O registro tomou o no 39.829, no Livro “A”, incluindo a Ata de constituição, os Estatutos, os membros fundadores e os membros da primeira Diretoria e do primeiro Conselho, com a respectiva qualificação. Desde o tempo decorrido entre a fundação da ABL e o seu registro como sociedade civil, tornou-se necessário registrar, ainda, no mesmo Cartório, os seguintes elementos:

– Ata da Assembleia que elegeu a atual Diretoria e Conselho, mais a relação dos eleitos e respectiva qualificação: Registro no 12.835, livro “C”, no 15;
– Livro de Atas da Diretoria: Registro número 26.203, Livro “D”, número 11;
– Livro de Atas da Assembleia: Registro número 26.204, livro “D”, número 11;
– Livro Diário de Contabilidade Reg. número 26.202, Livro “D”, número 11.

A publicação do resumo dos Estatutos foi feita no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Parte I, de 27/3/75, fls. 5566.

1.2. Aumento do quadro social
O número de membros, a 26/7/73, era de 86. A Diretoria submeteu à aprovação do Conselho, quer por correspondência, quer em reuniões, um total de 113 propostas de novos membros, cada uma delas acompanhada do “curriculum vitae”. O total de membros eleva-se hoje a 199, excluídas as propostas que não atenderam ainda à exigência estatutária de anexação do “curriculum vitae”.

1.3. Organização interna e rotina administrativa

a) Livros
Como se disse acima, a ABL não possuía livros de atas e de contabilidade.
As atas disponíveis eram, contando com uma reconstituição, apenas três: de fundação (reconstituída), da Assembleia Geral, e Atas de reuniões de Diretoria e do Conselho. Foram então abertos os livros respectivos, registrados em Cartório e atualizados pelo sistema de cópias mecânicas autenticadas.
Também o livro Diário de Contabilidade foi aberto e registrado em Cartório.

b) Pastas
Para os arquivos da ABL foram abertas e organizadas as seguintes pastas:
Pasta “A” – Registro da ABL no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro.
Pasta “B” – Registro dos membros da ABL, distribuído em:
Pasta “B-1” – Membros admitidos de 09/01/69 a 16/07/74;
Pasta “B-2” – Membros admitidos de julho/74 até a presente data;
Pasta “C” – Correspondência expedida;
Pasta “D” – Correspondência recebida;
Pasta “E” – Organização de reuniões de cunho científico;
Pasta “F” – Despesas e prestação de contas.

a) Fichário de membros
Além do cadastro das Pastas “C” e “D”, em ordem cronológica de admissão, organizou-se um fichário de membros, em material provisório, apenas para facilitar a atualização dos dados por ordem alfabética.

b) Expediente
O setor de expediente teve o seguinte movimento: redação e expedição de 10 cartas-circulares aos membros, 05 cartas-circulares aos membros do Conselho, 59 ofícios individuais, 07 telegramas, num total de 81 expedientes. Além disso, fizeram-se numerosas ligações telefônicas, principalmente nos meses que antecederam as reuniões científicas.

2. Contactos com outras sociedades científicas

No decorrer do 1º semestre de 1974, a ABL incluiu-se entre as entidades filiadas à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Daí resultou a sua possibilidade de participar da XXVI e da XXVII Reuniões Anuais da SBPC, em Recife, 1974, e em Belo Horizonte, 1975, criando-se para os seus membros uma ocasião de intercâmbio de ideias e experiências, quer entre si, quer com professores e pesquisadores de outras áreas.

3. Atividades de cunho científico

No âmbito das Reuniões Anuais da SBPC, a Associação Brasileira de Linguística promoveu as seguintes atividades:

3.1. Em julho de 1974, na XXVI Reunião Anual da SBPC, em Recife:
– Uma conferência: “Ambiguidade estrutural e concordância do infinitivo em português”, por Mário Alberto Perini, da UFMG.

– Uma mesa redonda: “Novas contribuições à linguística portuguesa”, com a participação de Ângela Vaz Leão, Presidente, da UFMG, Eunice Souza Lima Pontes, Secretária, da UFMG, Aryon Rodrigues, membro do Conselho, da Unicamp, Jurn Philipson, membro do Conselho, da USP e Nelson Rossi, da UFBa.

3.2. Em julho de 1975, na XXVII Reunião Anual da SBPC, em Belo Horizonte:

– Duas conferências interdisciplinares: “Linguística e Antropologia”, por Frank R. Brandon e Yonne Freitas Leite e “Linguística e Matemática”, por Anthony J. Naro. Essas conferências foram publicadas por Ciência e Cultura, revista da SBPC, volume 27, no. 12 (dezembro de 1975), págs. 1281 – 1292, vol. 28, no. 2 (fevereiro de 1976), págs. 139-146, respectivamente. A mesma revista, em seu vol. 28, no 8 (agosto de 1976), págs. 902-912, publicou os três relatórios mencionados em 2.2].

– Um simpósio: “O ensino da Linguística nos cursos de Licenciatura”, em que foram relatados e debatidos os temas: “Objetivos da Linguística na graduação” (Miriam Lemle, da UFRJ), “Conteúdo programático das disciplinas linguísticas na Licenciatura (Eunice Pontes, da UFMG), “Métodos e técnicas de ensino aplicáveis aos Cursos de Linguística” (Carlos Franchi, da Unicamp) e “Situação da Linguística no currículo de Letras” (Nelson Rossi, da UFBa).

Ocorreram também algumas comunicações livres de membros da ABL.

“Os textos mimeografados das conferências e relatórios para o simpósio da Associação Brasileira de Linguística foram distribuídos a todos os participantes, mediante módica indenização do material. O restante dessas cópias será oferecido, pelo mesmo preço, aos membros quites com a Tesouraria que não puderam comparecer às conferências e ao simpósio.”

3.3. Em novembro de 1975, a Associação Brasileira de Linguística deu intensa colaboração oficial e ampla participação através de grande número de seus membros ao II Seminário de Estudos sobre o Nordeste, patrocinado pelo Departamento de Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura e pela Coordenação Central de Extensão da Universidade Federal da Bahia.

Em dezembro do mesmo ano, graças a entendimento prévio com a citada Coordenação de Extensão e com papel e envelopes cedidos pelo Banco Econômico, a Associação Brasileira de Linguística reproduziu em mimeógrafo relatórios de estudos e comunicações, perfazendo 21 títulos, em 228 páginas.

4. Reuniões de caráter administrativo

Dentro das normas estatutárias, realizaram-se no biênio as seguintes reuniões de caráter administrativo:

1a – da Diretoria e do Conselho, em Recife, a 16/7/74, por ocasião da XXVI Reunião Anual da SBPCV.
2a – da Diretoria e do Conselho, em Belo Horizonte, a 11/7/75, por ocasião da XXVII Reunião Anual da SBPC;
3a – da Assembleia Geral, para a eleição da nova Diretoria e preenchimento de vagas no Conselho, em Belo Horizonte, a 12/7/75 – reunião que se realiza neste momento.

“Dentro de suas limitações e das dificuldades que acompanham qualquer obra de reestruturação, esta Diretoria crê que cumpriu, embora modestamente, todos os propósitos iniciais. Também acredita que, apesar das mesmas dificuldades e limitações, procurou não desperdiçar as oportunidades de fazer aquilo que parecia conveniente para a Associação, embora não inicialmente programado.
Lamenta, porém, que não tivesse tido tempo ou capacidade para tomar outras medidas que lhe parecem da maior importância e já agora inadiáveis. Aos colegas que hoje se elegerem, esta Diretoria pede licença para sugerir algumas providências:

  • Conclusão da obra de legalização da Associação Brasileira de Linguística, junto aos órgãos estaduais do Rio de Janeiro e vários órgãos federais.
  • Regularização do problema da sede, através de gestões junto ao Museu Nacional, ou através da reforma do artigo 2º dos Estatutos.
  • Reforma geral dos Estatutos, principalmente para conformá-los com as exigências do Sistema Nacional de Serviço Social – passo dos mais importantes no sentido do Decreto Federal de utilidade pública. Além disso, seria desejável que se pudesse publicar uma revista ou anais das reuniões e ainda realizar cursos e seminários de atualização em Linguística, autofinanciados – o que, a esta altura, já parece possível.

Finalmente, esta Diretoria agradece a todos os membros da Associação Brasileira de Linguística o seu constante apoio, durante dois anos de mandato. Registra ainda especial agradecimento aos membros do atual Conselho, professores Nelson Rossi, Ataliba T. de Castilho, Aryon Dall’Igna Rodrigues, Jurn Philipson, Albino de Bem Veiga e Carlos Eduardo F. Uchoa. Sem tal assistência, não lhe teria sido possível manter-se à frente da Associação e dar cumprimento ao honroso mandato que lhe foi confiado.”
Belo Horizonte, 25 de julho de 1975.
Ângela Vaz Leão, Presidente.

As intensas atividades relatadas acima mostram claramente que sem a querida Ângela Vaz Leão, a quem a ABRALIN presta uma justa homenagem, nossa associação não teria decolado , e não seria o que é hoje.