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Esta semana perdemos uma amiga linguista que muito representa a luta pela preservação das línguas originárias em nosso continente. Wendy Pimydyaba vinha de Aishalton, na Savana do Rupununi, Guiana. Dona de uma espontânea simpatia e capacidade de interação, transitou por nossas vidas deixando simples e belas recordações. Ainda na adolescência recebeu uma bolsa de estudos e se mudou para Georgetown para iniciar sua formação acadêmica. Contudo, foi no Brasil que concluiu a licenciatura e o mestrado na área de letras e linguística pela Universidade Federal de Roraima, sendo bolsista, pesquisadora e colaboradora em projetos relacionados ao ensino de línguas e educação. Foi também no Brasil que ela se reaproximou de suas origens indígenas, vindo a se tornar uma ativista pela preservação da língua wapichana.

Durante sua vida conheceu de perto todo tipo de preconceito. Falante nativa de inglês, nos contava histórias de como tinha que esconder seu sotaque guianense para ser aceita como professora em diferentes escolas de idiomas em Roraima. Como tantas outras mulheres negras no Brasil, era uma guerreira que se indignava com a violência racial e de gênero tão comum em nossa sociedade. Porém, de todos os seus papeis e suas lutas, seguramente o que mais nos marcou foi a Wendy indígena. Foi durante seus estudos como linguista que Wendy descobriu e nos ensinou diferentes preciosidades de sua língua ancestral. A linguística foi para ela uma porta de entrada para explorar a riqueza que ela mesma já trazia como falante de uma linda língua aruaque. De fato, ela própria era um exemplo do processo de retomada e revalorização de sua língua.

A linguística e a luta pela preservação das línguas originárias de nosso país perderam uma grande e importante aliada esta semana. Seu trabalho e dedicação foram fundamentais em diferentes projetos de criação de materiais didáticos e oficinas para professores de língua indígena. Ela deixa um vazio não só por sua carismática presença, mas também por sua contribuição a uma área que tanto precisa de boas mentes e corações. Por ser falante de wapichana, inglês e português e – principalmente – por ter experiência no ensino de segundas línguas, Wendy contribuiu de forma decisiva para a área de ensino de wapichana.

Wendy, nossa amiga, se foi muito cedo. Ela deixa três filhos e uma neta. Para todos nós, seus amigos, familiares e colegas de trabalho, Wendy Pimydyaba fará muita falta.

Elder Lanes – UFRR
Luiz Amaral – UMass