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As submissões para os dossiês temáticos do volume 20 (2022) da Revista da Abralin estão abertas até o dia 27 de setembro de 2022.

Os textos devem ser encaminhados no sistema da revista, seguindo estritamente as normas de apresentação de manuscritos e o template, disponível em Submissões.

A Revista da Abralin adota processo de avaliação aberta e, a partir deste volume, os pareceres serão publicados, junto com os artigos.

GRAMÁTICA DE DEPENDÊNCIAS

Organização: Adriana Silvina Pagano (Universidade Federal de Minas Gerais), Jorge Baptista (Universidade do Algarve) & Maria Cláudia de Freitas (Pontifícia Universidade Católica do Rio)

A gramática de dependências é uma abordagem linguística com uma longa tradição gramatical, que privilegia as relações sintático-semânticas entre as unidades linguísticas nas frases. Nela, as frases são representadas por estruturas de grafos acíclicos, geralmente sem nós (abstratos) intermédios, e as dependências são as transições entre as unidades linguísticas (palavras).

Apesar de sua longa trajetória, a gramática de dependências teve impacto moderado nos círculos europeus, sendo sua repercussão escassa na América do Norte e na América Latina. No caso do Brasil, mais especificamente, pode-se afirmar que constitui uma abordagem praticamente (senão totalmente) ausente nos cursos de formação em linguística. A gramática de dependências teve, no entanto, um grande impacto na linguística computacional, não só pelo seu poder explicativo, do ponto de vista teórico, mas também por permitir um processamento eficiente e relativamente simples das estruturas complexas da linguagem, incluindo relações de dependência a longa distância, na área do processamento de língua natural (PLN). Por isso, vem sendo adotada crescentemente como suporte teórico de projetos de anotação de corpora e construção de treebanks orientados a tarefas de análise sintática automática (parsing), essenciais em diversas pipelines de PLN. Os numerosos problemas que levanta, tanto teóricos como técnicos, e os variadíssimos fenómenos que descobre na análise das estruturas da língua natural, requerem a formação de linguistas preparados para aplicar esta abordagem em tarefas concretas de anotação de corpora, no cálculo e na manipulação de estruturas de grafos, com especial ênfase na aprendizagem automática.

O presente dossiê pretende reunir estudos centrados na gramática de dependências, contribuindo para uma discussão aprofundada em torno do potencial dessa abordagem, tanto para a reflexão linguística teórica em geral, como para a descrição e comparação das línguas, promovendo uma visão de complementaridade e integração recíproca entre linguística e linguística computacional, fecunda para ambos os campos.

TEORIAS E MÉTODOS EM LINGUÍSTICA POPULAR/FOLK LINGUISTICS

Organização: Roberto Leiser Baronas (Universidade Federal de São Carlos), Marcelo Rocha Barros Gonçalves (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) & Dennis Preston (Oklahoma State University)

Neste dossiê pretendemos acolher artigos e ensaios sobre os estudos em Linguística Popular/Folk Linguistics (NIEDZIELSKI; PRESTON, 2003), sobre suas metodologias e sobre as diferentes abordagens para o estudo das manifestações sobre a linguagem feitas por não especialistas (PAVEAU, 2020).

As práticas linguísticas realizadas por estes não linguistas podem revelar estratégias bastante diversificadas quanto à construção de teorias espontâneas sobre língua e linguagem, alinhadas ou não às teorias formalizadas já consagradas num ambiente científico e acadêmico. Hoeningswald ([1966] 2022) tratou de chamar a atenção para a oposição entre os saberes científicos e saberes populares em linguística, e como os comentários sobre a linguagem realizados por pessoas comuns foram desde sempre negligenciados nas formulações de teorias científicas em Linguística.

Pretendemos discutir, neste sentido, algumas questões que podem estar relacionadas ao próprio estado da arte da Linguística Popular mais recentemente. Partimos de uma questão em especial para a área de estudos, qual seja “quem são os não linguistas?” (PAVEAU, 2020, p.28), para observar os falantes comuns na produção de conhecimento sobre a língua neste confronto entre o científico e o popular. Interessa-nos saber “quais (e como) são as práticas destes não linguistas no trabalho com a linguagem?” e “quando estas práticas são colocadas em uso pelos falantes comuns em ambientes reais de interação?”.

Desta maneira pretendemos estabelecer pelo menos três eixos de estudos em linguística popular: o das formas e dos domínios da linguística popular/ folk linguistics, o da validade, legitimidade e dos (im)possíveis diálogos das teorias espontâneas com outros saberes, e, por fim o eixo das implicações da Linguística Popular para o ensino de línguas maternas e estrangeiras.

DOS ESTUDOS EM FONÉTICA AO ENSINO DE LÍNGUA ORAL: UMA PERSPECTIVA MULTIDIMENSIONAL

Organização: Monique Leite Araújo (Universidade de Brasília) & Sara Recio Pineda (Universitat de Barcelona)

Nos últimos anos, os estudos que abordam a análise da fala espontânea têm experimentado um rápido aumento, tanto em quantidade quanto em qualidade. Desde a descrição da produção de fonemas, até a análise de contornos melódicos, passando pela análise de diferentes dimensões da prosódia, e o ajuste de modelos didáticos de pronúncia no campo do ensino de língua oral, a fonética da fala espontânea pode ser abordada sob diversas perspectivas.

Este dossiê pretende ser um espaço de troca e interação na divulgação de reflexões teóricas, resultados de pesquisas e propostas de inovação na fala espontânea. Assim, esperamos que pesquisadores que abordam a análise e o ensino da fonética e da fonologia a partir de diferentes perspectivas possam ampliar seus interesses para obter uma visão mais ampla dos fenômenos.

A pesquisa que será aqui coletada dará conta das últimas descobertas em: a) análise acústica (vocalismo e consonantismo) da fala espontânea em diferentes línguas, b) análise melódica (entonação pré-linguística, linguística e paralinguística), c) análise (que enfoca os padrões melódicos, rítmicos e dinâmicos dos enunciados); e d) propostas didáticas para lidar com os aspectos mais relevantes da pronúncia em diferentes contextos de ensino-aprendizagem.

Em conclusão, o dossiê apontará os esforços dos pesquisadores em observar a fonética da fala espontânea a partir de uma perspectiva multidimensional, bem como mostrar as aplicações de estudos experimentais na geração de modelos didáticos de pronúncia que possam se adequar a diferentes perfis de aprendizes.

REPENSANDO A EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA CRÍTICA E A BNCC: DISCUSSÕES E PRÁTICAS

Organização: Kleber Aparecido da Silva (Universidade de Brasília), Brian David Morgan (Universidade de York) & Walkyria Monte Mor (Universidade de São Paulo)

O objetivo central desta edição especial é apresentar estudos e reflexões críticas e/ou decoloniais em relação à Base Nacional Comum Curricular – BNCC, partindo especialmente da(s) visão(visões) da Linguística Aplicada Crítica e Educação Crítica (SILVA; JORDÃO, 2021; SOUZA, 2021, 2019; RAJAGOPALAN, 2020, 2019; JORDÃO, 2019; PENNYCOOK; MAKONI, 2019; JORDÃO; MARTINEZ; MONTE MOR, 2018; MONTE MOR; MORGAN, 2014; DUBOC; FERRAZ, 2018; FREIRE, 1987; 1980 [2001]).

Para tanto, ele será organizado em torno dos seguintes eixos: i) Etnografias das Políticas Linguísticas no Brasil: discussões críticas das especificidades das políticas linguísticas no Brasil que refletem uma “matriz (neo)colonial de poder” (SANTOS, 2014): i.e. alicerçadas nas teorias do Norte/da Metrópole/Eurocêntricas, nos sistemas de conhecimentos e epistemologias; ii) Política e Planejamento Linguístico (PPL): análises críticas das iniciativas das PPL que refletem opressão econômica e dependências neoliberais (e.g. native-spkearism, ideologias da língua padrão, monolinguismo, economia política de publicações globais via periódicos ingleses e rankings internacionais); iii) Bases da PPL (i.e. ideologias de língua e letramento/ ASL, e currículo) que contribuem para desigualdades e hierarquias que têm por base raça, gênero, sexualidade (e.g. rácio-linguística); iv) Promulgação de Políticas Linguísticas (e.g. RAMANATHAN; MORGAN, 2007): a agência de professores locais em mediar ou resistir as políticas.

Esperamos que as submissões para este dossiê temático estendam e avancem a nossa compreensão da BNCC em apoio a uma educação linguística crítica efetiva.

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Atenciosamente,

Equipe editorial da Revista da Abralin